Série C terá 28 clubes a partir de 2028 com reformulação radical da CBF

Série C terá 28 clubes a partir de 2028 com reformulação radical da CBF nov, 11 2025

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou, em 1º de outubro de 2025, uma das maiores mudanças na estrutura do futebol profissional brasileiro em décadas: a Série C passará a ter 28 clubes a partir de 2028. A decisão, detalhada em um documento oficial intitulado "Novo Calendário do Futebol Profissional Masculino Brasileiro", não é apenas um aumento de participantes — é uma reestruturação completa da pirâmide, com impactos diretos em clubes de todos os estados, desde os grandes centros até os pequenos times do interior. A mudança visa, segundo a entidade, "garantir mais racionalidade e equilíbrio ao calendário", mas o que os torcedores sentem na pele é outra coisa: mais jogos, mais esperança — e mais pressão.

Transição gradual: de 20 a 28 clubes em três anos

O caminho até os 28 clubes não será de um dia para o outro. Em 2026, a Série C manterá o formato atual de 20 equipes, mas com uma mudança radical: apenas duas equipes serão rebaixadas — contra quatro na temporada anterior — enquanto seis subirão da Série D. Isso significa que, mesmo sem aumentar o número de participantes, o fluxo de clubes será invertido. O Santa Cruz Futebol Clube, único representante de Pernambuco na terceira divisão, já sente o vento mudar. "É uma oportunidade, mas também um risco", disse um dirigente local ao Diário de Pernambuco. "Se a gente não se preparar, pode cair de vez." Em 2027, a competição passará para 24 clubes — ainda com a mesma lógica de dois rebaixados e seis promovidos. A fase inicial continua em turno único, com 23 rodadas, e os oito melhores avançam aos quadrangulares. Mas o cenário muda completamente em 2028.

O novo modelo: dois grupos de 14 e seis rebaixados

A partir de 2028, a Série C será dividida em dois grupos de 14 equipes, com jogos de ida e volta dentro de cada chave. Isso eleva o número total de partidas por clube de 19 para 26 apenas na fase de grupos — quase o dobro da atual. Os oito primeiros de cada grupo avançarão à fase final, mas o rebaixamento também será mais severo: seis clubes cairão (três de cada grupo), mantendo o equilíbrio com os seis que subirão da Série D.

"É um sistema de troca limpa", explicou o analista Roberto Nascimento em vídeo divulgado em 1º de outubro. "Em 2026 e 2027, só caem dois. Em 2028, caem seis — mas só porque acumulamos os rebaixamentos que não aconteceram antes. É matemática, não caos." Essa mudança é parte de um pacote maior. A Série D, que hoje tem 64 clubes, saltará para 96 em 2026. O objetivo? "Assegurar maior inclusão nacional", como diz o comunicado da CBF. Agora, cada região terá vagas garantidas, e clubes de estados menores — como Roraima, Amapá ou Tocantins — terão mais chances reais de subir. O Santa Cruz não será mais o único representante de Pernambuco na terceirona. Outros clubes da região podem surgir.

Outras mudanças no calendário: menos jogos para os grandes

A reforma da Série C não é isolada. A CBF também reduziu os campeonatos estaduais de 16 para 11 datas, com o período oficial entre 11 de janeiro e 8 de março. Isso foi feito para evitar sobrecarga nos clubes da Série A, que agora terão seus calendários antecipados e paralisados durante a Copa do Mundo Masculina — algo que, até então, era ignorado pela entidade.

Além disso, a Copa do Brasil ganhará mais participantes e menos rodadas para os clubes da elite. E, pela primeira vez, serão criadas competições regionais: a Copa Centro-Oeste e a Copa Sul-Sudeste. Clubes que disputarem torneios continentais — como a Libertadores ou a Sul-Americana — não poderão mais jogar essas competições regionais. É um sinal claro: a CBF quer que os grandes se concentrem no nacional e no internacional, e os pequenos tenham seu espaço.

Por que isso importa para o torcedor comum?

Muitos acham que isso só afeta clubes da terceira divisão. Mas não é bem assim. A Série C é o último degrau antes do acesso à elite. Quando ela se torna mais competitiva, mais organizada e mais inclusiva, ela fortalece todo o sistema. Mais jogos significam mais renda para clubes pequenos, mais empregos locais, mais movimento nos estádios. Em cidades como Campina Grande, Juazeiro do Norte ou São José do Rio Preto, o futebol é vida. E agora, essas cidades têm mais chances de ter um time na Série C — e talvez, um dia, na Série A.

"Antes, a Série C era um lixo organizado", disse o historiador esportivo Carlos Eduardo, da UFRJ. "Agora, ela passa a ser um trampolim real. O clube que se preparar, que investir em base, que ter um bom planejamento, pode subir. E isso muda a cultura do futebol brasileiro." O que antes era visto como uma competição de sobrevivência — com times que mal tinham estrutura para viajar — passa a ser um projeto de longo prazo. E isso, sim, é transformador.

Quais clubes podem se beneficiar?

Quais clubes podem se beneficiar?

Os times que mais ganham com essa mudança são os que já têm tradição, mas caíram na Série D — como o Bragantino (antes de subir à elite), o Operário Ferroviário ou o Criciúma. Mas também os clubes de estados menos representados: o São Raimundo-RR, o Atlético de Icoaraci (PA), o São José-RS — todos podem ter um lugar na mesa.

Desafios e críticas

Nem tudo é perfeito. Alguns técnicos alertam que 26 jogos na fase de grupos são excessivos para clubes que não têm estrutura para manter elencos de 30 jogadores. E a logística de viagens entre estados do Norte e Sul pode se tornar um pesadelo. "Vai ter time que vai gastar mais com passagem aérea do que com salários", disse um técnico de uma equipe da Série D em entrevista ao GE Globo.

Além disso, a CBF ainda não detalhou como será o sistema de pontuação entre os dois grupos, nem como será a definição dos campeões da Série C. Será um jogo único? Duas partidas? Isso é o próximo grande questionamento.

Frequently Asked Questions

Como será o acesso à Série B a partir de 2028?

A partir de 2028, os oito primeiros colocados de cada grupo da Série C (totalizando 16 clubes) avançarão para uma fase final, que ainda não foi detalhada pela CBF. Os dois melhores de toda a competição garantirão o acesso à Série B, enquanto os terceiros e quartos colocados poderão disputar vaga em playoffs, caso a entidade decida implementar esse formato. A regra principal é: só o topo sobe, e o fundo cai.

Por que a Série D vai de 64 para 96 clubes?

A ampliação visa garantir representatividade regional. Hoje, estados como Acre, Rondônia e Alagoas têm poucos clubes na Série D. Com 96 vagas, a CBF distribuiu cotas por região: 24 para o Nordeste, 22 para o Sul, 20 para o Sudeste, 16 para o Centro-Oeste e 14 para o Norte. Isso garante que até times de cidades com menos de 50 mil habitantes tenham chance real de competir nacionalmente.

Essa mudança beneficia os clubes pequenos ou só os grandes?

Beneficia os clubes que investem em estrutura, não os que vivem de patrocínio temporário. A Série C com 28 clubes exige mais profissionalismo: contratações, infraestrutura, planejamento. Clubes que hoje vivem de doações e jogadores emprestados terão dificuldade. Mas os que tiverem base sólida — como o Botafogo-PB ou o Ferroviário-CE — podem se tornar potências nacionais.

Quem perde com essa reformulação?

Os clubes que dependem de rebaixamentos fáceis para manter o fluxo de dinheiro. Antes, um time da Série C podia se manter por anos com pouca estrutura e ainda sobreviver. Agora, o rebaixamento será mais severo — e o acesso, mais competitivo. Também perdem os clubes que não se adaptarem ao novo calendário, especialmente os que jogam em estados com poucos recursos para viagens.

E os clubes da Série A? Eles realmente ganham com menos jogos?

Sim. Antes, clubes da Série A disputavam até 70 jogos por ano — estaduais, Copa do Brasil, Série A e, às vezes, competições continentais. Agora, com os estaduais reduzidos e a Copa do Brasil mais enxuta, o número cai para cerca de 55 jogos. Isso reduz o risco de lesões, melhora o desempenho e permite melhor preparação para torneios internacionais — algo que a CBF não fazia há 20 anos.

Quando as mudanças entram em vigor de fato?

As mudanças começam em 2026, com a redução de rebaixados e aumento de clubes da Série D. Em 2027, a Série C terá 24 times. A reformulação completa — com os dois grupos de 14 e seis rebaixados — só entra em vigor em 2028. Mas o calendário de 2026 já está definido, e os clubes têm até dezembro de 2025 para se prepararem.