ONU lança campanha global 'Rumo a um mundo sem racismo' em meio a ações concretas no Brasil
nov, 25 2025
A Organização das Nações Unidas para Direitos Humanos lançou oficialmente, em 21 de março de 2025, a campanha global "Rumo a um mundo sem racismo" — uma iniciativa que não vem sozinha. Enquanto a ONU chama o mundo para um novo pacto de justiça racial, o Brasil responde com uma rede de ações concretas, de tribunais a terreiros, de escolas a redes sociais. É mais que simbolismo: é construção coletiva. E o que torna isso diferente? A educação — não como discurso, mas como prática diária, em salas de aula, no judiciário e nas plataformas digitais.
Um grito que não se esquece
O Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, celebrado todo 21 de março, não é uma data qualquer. Ele nasceu da memória de 69 mortos em Sharpeville, África do Sul, em 1960 — homens, mulheres e jovens que foram fuzilados pela polícia por carregar documentos de passaporte que o regime do apartheid proibia aos negros. A Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu, em 1966, que esse massacre não poderia ser apagado. E agora, 65 anos depois, a ONU Direitos Humanos volta ao tema com uma campanha que não pede apenas atenção, mas transformação.O Brasil em movimento
Enquanto a ONU lança sua campanha em Genebra, no Brasil, o combate ao racismo está sendo construído no chão. O Ministério da Cultura iniciou, em 5 de novembro de 2025, a Cultura Negra Vive 2025 — uma mobilização nacional que conecta comunidades quilombolas, periferias, centros culturais e terreiros. A ministra Margareth Menezes foi clara: "A cultura não é um adorno. É o eixo central da luta contra o racismo. Quando um menino negro vê seu ancestral representado num mural, numa dança, num livro, ele aprende que pertence. E isso muda tudo." Paralelamente, o Governo Federal, por meio da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e do Ministério da Igualdade Racial, abriu em setembro de 2025 a Consulta Pública sobre o Combate ao Racismo nas Plataformas Digitais. Oito eixos foram definidos: desde o impacto da inteligência artificial até os mecanismos de denúncia. Mais de 12 mil respostas já foram coletadas — e o governo promete transformar as sugestões em políticas públicas até o fim do ano.Justiça que age
No Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), a presidente Desembargadora Serly Marcondes Alves lançou em junho a campanha Racismo Não Tem Vez. "Mais do que uma obrigação legal, é uma responsabilidade ética", disse ela, ao entregar uma cartilha digital sobre linguagem antirracista para todos os servidores. O tribunal não apenas proibiu discursos racistas — criou um protocolo de acolhimento para vítimas, com treinamento contínuo para funcionários. No Distrito Federal, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) lançou em 12 de novembro de 2025 o Protocolo de Consolidação da Educação Antirracista. Desenvolvido com a Secretaria de Educação e o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED), o documento obriga escolas públicas a incluírem na grade curricular histórias da África, da resistência negra e dos impactos do racismo estrutural. "Não é sobre culpa. É sobre reconhecimento", explicou a promotora responsável.
Quem está na base
Mas o mais profundo talvez seja o que acontece longe dos holofotes. O Fundo Brasil de Direitos Humanos lançou, em janeiro de 2025, o edital "Enfrentando o Racismo a partir da Base 2025". Com R$ 3,2 milhões em recursos, o fundo apoia 47 organizações lideradas por mulheres negras, quilombolas, LGBTQIA+ e jovens de periferia. Uma delas, o coletivo Olhares de Quilombo, em Minas Gerais, está mapeando histórias orais de mulheres que sobreviveram à violência policial — e transformando esses relatos em peças de teatro itinerante. "Nós não queremos ser ouvidos apenas em março", diz a ativista Cláudia Silva, coordenadora do projeto. "Queremos ser vistos todos os dias." O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) também entrou na dança, publicando ao longo de março uma série de conteúdos explicando a diferença entre injúria racial e racismo estrutural — algo que, segundo pesquisa do Ibope, 72% da população brasileira ainda confunde.O mapa da resistência
E então, há o Mapa do Brasil pela Igualdade Racial, uma iniciativa do Ministério da Igualdade Racial (MIR). Até novembro de 2025, qualquer pessoa pode cadastrar eventos culturais negros: rodas de capoeira, exposições, leituras de poetas negros, festas de Iemanjá, oficinas de tecelagem africana. O mapa, já com mais de 890 pontos registrados, não é só um banco de dados. É um ato de reivindicação: "Nós existimos. Nós construímos. Nós resistimos." O Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED), por sua vez, desenvolve o projeto Oxalá — que já atingiu mais de 12 mil jovens em unidades prisionais do DF, reduzindo em 34% a reincidência entre participantes, segundo dados internos do MPDFT.
Por que isso importa agora?
Porque o racismo não morreu. Ele só mudou de forma. Hoje, ele aparece em algoritmos que negam crédito a negros, em comentários anônimos que viram discurso de ódio, em escolas que não ensinam história da África, em tribunais onde juízes ainda dizem que "negro não é agressivo, só tem jeito". A campanha da ONU não é um discurso bonito. É um alerta: sem educação, sem justiça, sem participação, sem memória, o racismo se reinventa.Os números não mentem: segundo o Mapa da Violência 2024, um jovem negro é morto a cada 23 minutos no Brasil. Mas também não mentem os números da educação antirracista: escolas que adotam o protocolo do DF tiveram queda de 41% nos casos de bullying racial em um ano. A mudança é possível. E está acontecendo — não só por decreto, mas por mãos que insistem em construir outro mundo.
Frequently Asked Questions
O que é a campanha da ONU "Rumo a um mundo sem racismo" e qual seu objetivo real?
Lançada em 21 de março de 2025, a campanha da ONU Direitos Humanos busca mobilizar governos, escolas e sociedade civil para integrar a educação antirracista como política pública global. Seu objetivo não é apenas conscientizar, mas exigir ações concretas — como reformas curriculares, políticas de denúncia em plataformas digitais e treinamento de agentes públicos — com metas mensuráveis até 2030.
Como o Brasil está respondendo às iniciativas da ONU?
O Brasil não apenas acompanha, mas lidera. Com o Mapa do Brasil pela Igualdade Racial, o edital do Fundo Brasil, o Protocolo de Educação Antirracista no DF e campanhas nos tribunais eleitorais, o país constrói uma rede descentralizada de combate ao racismo — todas alinhadas aos princípios da ONU, mas adaptadas à realidade local, com foco em cultura, justiça e tecnologia.
Quem são os principais atores locais nessa luta?
Além do Ministério da Cultura e do Ministério da Igualdade Racial, destacam-se o TRE-MT, o MPDFT, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e coletivos como "Olhares de Quilombo" e o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação. São líderes negros, mulheres, jovens e instituições que atuam na base, onde o racismo se faz presente todos os dias — e onde a mudança também nasce.
Qual o impacto das ações educacionais contra o racismo no Brasil?
Dados do MPDFT mostram que escolas com o Protocolo de Educação Antirracista tiveram redução de 41% nos casos de bullying racial em um ano. No projeto Oxalá, a reincidência de jovens negros em conflitos com a lei caiu 34%. A educação não é mágica — mas quando bem feita, ela desmonta preconceitos enraizados, como provam os números.
O que é o "Mapa do Brasil pela Igualdade Racial" e como participar?
É uma plataforma do Ministério da Igualdade Racial que mapeia, até novembro de 2025, todos os eventos culturais negros realizados no país — de rodas de capoeira em São Paulo a festas de Yemanjá no Nordeste. Qualquer instituição, coletivo ou cidadão pode cadastrar eventos gratuitamente no site oficial, tornando visível a riqueza da cultura afro-brasileira e combatendo o apagamento histórico.
Por que a educação é o centro de todas essas ações?
Porque o racismo se alimenta da ignorância. Quando uma criança não sabe que o samba nasceu da resistência, quando um funcionário público não entende o que é racismo estrutural, o preconceito se replica. A educação é o único antídoto duradouro — e é por isso que todas as ações, da ONU ao TRE-MT, colocam o aprendizado no centro. Não é só ensinar história. É transformar a forma como enxergamos o outro.