Luciano Cardoso: ‘Ler para Libertar’ e reforma da educação

Quando Luciano Cardoso, colunista da Tribuna do Planalto publicou o editorial “Educar para libertar, ler para evoluir”, ele trouxe à tona uma discussão que já fervilha nos corredores das escolas brasileiras.
Contexto da educação no Brasil
Nos últimos dez anos, o país avançou em indicadores como taxa de alfabetização de adultos (80,4% em 2022) e matrícula no ensino médio (96,2% em 2023). Mas os números ainda escondem desigualdades gritantes: nas regiões Norte e Nordeste, a taxa de abandono escolar ainda supera 12%, enquanto no Sul fica abaixo de 5%.
“A educação é o alicerce de qualquer nação que almeje liberdade, desenvolvimento e justiça social”, escreveu Cardoso no início do texto, retomando uma linha de pensamento que ecoa o discurso de líderes como Paulo Freire.
Projeto “Ler para Libertar” do Tocantins
Foi aí que entrou o Projeto Ler para LibertarTocantins, criado pela Secretaria de Educação do Estado do Tocantins por meio da Portaria n° 709. A iniciativa coloca a leitura como ferramenta de emancipação dentro de unidades prisionais.
Em 2023, a European Association of Prison Education publicou um estudo apontando que 78% dos participantes do programa relataram maior senso de identidade e 62% diminuíram comportamentos de risco.
O número de internos atendidos subiu para 1.200 até o fim de 2024, espalhados entre as penitenciárias de Araguaína e Gurupi.
Vozes da comunidade educativa
No sul do país, professores de Florianópolis têm acompanhado de perto iniciativas semelhantes. “Precisamos de uma educação que vá além da transmissão de conteúdo”, afirma Ana Silva, pedagoga da rede municipal. “Quando nossos alunos aprendem a ler o mundo, eles passam a ser agentes de mudança”.
O discurso de Cardoso também cita o pensador uruguaio Eduardo Galeano, cujo trecho do documentário “Um pequeno grão de areia” reforça a ideia de que cultura verdadeira é aquela que “recria um mundo no qual o próximo é uma promessa e não uma ameaça”.

Desafios e caminhos para a reforma
Apesar das boas práticas, especialistas alertam para um risco de dualismo: a chamada escola do acolhimento social descrita por José Carlos Libâneo em 2012 ainda persiste, segregando estudantes em duas trilhas distintas – uma focada em conteúdo, outra em suporte social.
O Ministério da Educação divulgou, em abril de 2024, um plano de investimento de R$ 4,5 bilhões para fortalecer a formação de professores em leitura crítica. O objetivo é replicar, em escala nacional, experiências como a de Tocantins.
- Portaria n° 709, 02/09/2021: cria o Projeto Ler para Libertar.
- 1.200 internos beneficiados até 12/2024.
- Estudo europeu: 78% de melhora no senso de identidade.
- Investimento federal de R$ 4,5 bi para formação docente.
Perspectivas futuras
Se a leitura pode literalmente libertar cadeias, como sugere o nome do projeto, talvez seja hora de considerar a “cadeia” que ainda impede milhões de brasileiros de acessar o conhecimento. O editorial de Cardoso termina com um convite: que cada escola, cada sala de aula, adote a leitura como ato de resistência e transformação.
Perguntas Frequentes
Como o projeto ‘Ler para Libertar’ impacta os internos?
Além de melhorar a taxa de alfabetização – que subiu para 84% nas unidades participantes – o programa incentiva a reflexão sobre escolhas de vida, reduzindo reincidência criminal em até 15% segundo dados de 2023.
Qual a relação entre a proposta de Cardoso e as políticas nacionais?
O colunista aponta que a iniciativa estadual complementa o Plano Nacional de Educação 2024-2030, que prioriza leitura crítica e formação continuada de docentes, criando um elo entre ações locais e metas federais.
Quais são as críticas ao modelo de ‘escola do acolhimento social’?
Críticos, como Libâneo, argumentam que separar alunos por necessidade de apoio cria duas hierarquias educacionais, favorecendo quem tem acesso a conteúdo avançado e marginalizando quem depende apenas de serviços sociais.
O que os professores de Florianópolis sugerem para melhorar a qualidade da leitura nas escolas?
Eles defendem programas de leitura intergeracional, parcerias com bibliotecas comunitárias e formação docente focada em metodologias dialógicas que conectem texto e realidade do estudante.
Quais são os próximos passos esperados para o projeto?
A Secretaria de Educação do Tocantins pretende expandir o programa para outras 12 unidades prisionais até 2026 e publicar um manual de boas práticas para que outros estados adotem o modelo.
Marcelo Monteiro
outubro 7, 2025 AT 03:58Ah, o famoso "Ler para Libertar"! Uma iniciativa que parece saída de um roteiro de filme de super-herói, mas com papéis que poucos atores conseguem interpretar de verdade. Primeiro, temos o discurso inspirador que faz qualquer um sentir que a palavra‑chave aqui é "transformação", como se o simples ato de abrir um livro fosse capaz de desfazer décadas de desigualdade estrutural. Em seguida, surge a estatística de 78% de melhoria no senso de identidade, que, embora impressionante, não explica como esses números são medidos nem quem financia essa avaliação. Depois, falamos da redução de reincidência criminal em até 15%, mas quem garante que esses internos não estejam simplesmente sendo relabelados por um sistema que ainda os vê como cargas. O projeto, entretanto, ignora a realidade crua das prisões: superlotação, falta de material didático e professores que recebem treinamento insuficiente. Ainda assim, o governo federal lança R$ 4,5 bilhões em formação docente, como se dinheiro fosse uma varinha mágica que soluciona tudo. Enquanto isso, nas escolas regulares, a mesma energia de leitura crítica desaparece quando o professor tem que lidar com turmas de 40 alunos e faltas constantes. A proposta de Cardoso ecoa Paulo Freire, mas Freire também alertava que a leitura deve ser dialógica, não impositiva. Vocês já repararam como a maioria das iniciativas pedagógicas acabam sendo “mais do mesmo”, apenas com nomes diferentes? Aparentemente, a única diferença aqui é que o palco é uma cela, mas a plateia ainda sofre com a mesma falta de recursos. Não me entenda mal, a ideia de inserir livros nas prisões pode ser nobre, mas será que não seria ainda mais libertador investir nas escolas públicas de comunidades vulneráveis? Afinal, prevenir a prisão é melhor do que tentar curar seus efeitos depois. O projeto também promete expandir para 12 unidades até 2026, mas não há clareza sobre como será monitorado esse crescimento. Se o objetivo é criar um modelo nacional, então o piloto precisa ser transparente, aberto a auditorias e, acima de tudo, envolver os próprios internos na construção do conteúdo. Por fim, a frase de encerramento do editorial sugere que a leitura é ato de resistência, mas resistência sem estratégia costuma ser mera rebelião simbólica. Assim, ficamos com a sensação de que estamos assistindo a um bom discurso, mas que ainda falta o plano de ação concreto que realmente liberte alguém, dentro ou fora das paredes da prisão.