Flamengo perto de repetir a escalação após cinco meses: Filipe Luís só tem uma baixa

Cinco meses depois, Filipe Luís tem algo raro no futebol brasileiro: a chance real de repetir a mesma equipe titular. Para o jogo do fim de agosto pelo Brasileirão, a única baixa do Flamengo é Rodrigo Caio, fora por uma lesão leve na coxa. No mais, tudo caminha para manter a base que empilhou vitórias, deu cara ao time e sustenta a liderança com folga.
Essa estabilidade não caiu do céu. Desde que assumiu o comando em setembro de 2024, após a saída de Tite, Filipe definiu um plano e ficou fiel a ele. A equipe joga com posse, paciência e muita coordenação no último terço. Pedro, Arrascaeta e Vitinho se mexem o tempo todo, trocando de função para abrir espaços e criar superioridade perto da área. É simples de explicar e difícil de marcar.
O resultado aparece nos números. O Flamengo repetiu a mesma formação titular em 8 dos últimos 10 jogos do Brasileirão. Perdeu só uma vez em 24 partidas, soma 63 pontos e abriu sete de vantagem na tabela. A defesa é a melhor do campeonato, com só 17 gols sofridos. Em um país de viagens longas, gramados diferentes e calendário apertado, manter padrão assim é exceção.
A única mudança recente está no miolo da zaga: com Rodrigo Caio fora por precaução, Pablo Marí assumiu ao lado de Léo Pereira. A dupla funciona porque se complementa — um dá o primeiro bote, o outro organiza a linha e a cobertura. E a comissão técnica trabalha com a expectativa de ter Rodrigo de volta já na semana seguinte, o que devolve a Filipe a possibilidade de usar exatamente o mesmo quarteto defensivo que virou a base da solidez no ano.
O timing ajuda. A equipe chega a esse ponto de sintonia às vésperas da fase decisiva do Mundial de Clubes, com quartas de final contra o Real Madrid. Quanto mais os jogadores repetem movimentos, mais automáticos ficam os gatilhos: quem pressiona a bola, quem fecha o passe curto, quem ataca o segundo pau em cruzamento. Em jogo grande, detalhe decide. E detalhe nasce de repetição.
Estabilidade rara no Brasileirão
No futebol brasileiro, repetir escalação costuma ser luxo. Entre suspensões, viagens, datas FIFA e pancadas de treino, quase sempre tem alguém fora. O Flamengo driblou isso com duas cartas: elenco bem equilibrado e um desenho tático que exige ajustes pequenos, não revoluções a cada rodada. Quando a estrutura é clara, entra um, sai outro, e o funcionamento resiste.
A espinha dorsal é a mesma que venceu o Chelsea por 3 a 1 na fase de grupos do Mundial deste ano. A partir dali, o time cresceu no jogo posicional: amplitude para esticar a defesa rival, triangulações curtas por dentro, paciência para não forçar cruzamento sem vantagem. Pedro sai da área para tocar de frente, Arrascaeta pisa em zonas diferentes para receber entre as linhas e Vitinho alterna largura e infiltração. Isso confunde zagueiro e volante adversários.
Essa clareza tática também protege a defesa. Quando a bola se perde, o bloco reage junto, fecha o funil central e orienta o adversário para o lado, onde a equipe pressiona com dois contra um. O número baixo de gols sofridos não nasce só do zagueiro bem posicionado; nasce do time inteiro encurtando espaço rápido.
Manter o mesmo onze também tem efeito mental. Os jogadores confiam nos companheiros, sabem onde cada um vai estar sem olhar, antecipam escolhas. Isso acelera a tomada de decisão e melhora a qualidade da última bola. Em jogos apertados, essa familiaridade aparece naqueles toques de primeira que quebram a marcação.
Tem um lado B nessa moeda: o risco de desgaste. Calendário brasileiro não perdoa. A diferença é que Filipe tem evitado mexer por mexer. Ele troca quando o plano pede outra característica ou quando o sinal físico acende. Resultado: ritmo alto, mas sem queimar etapas. O banco segue engajado porque a porta para minutos reais fica aberta, não é só prêmio de fim de jogo.
A consistência também facilita leituras durante os 90 minutos. Com o time muito treinado, dá para mudar comportamentos sem mudar nomes — empurrar um ponta para dentro para formar dupla com Pedro, baixar um meia para ajudar na saída, segurar um lateral para proteger transição. Quando o mecanismo está automatizado, um ajuste de dois metros muda o cenário.

O que está em jogo: tabela e Mundial
Na tabela, a vantagem de sete pontos não dá folga eterna, mas oferece margem para controlar risco. O plano é preservar o padrão no Brasileirão e chegar inteiro no Mundial. Repetir a escalação, se o corpo permitir, ajuda os dois objetivos: o time mantém o ritmo do campeonato e ganha entrosamento para encarar o Real Madrid.
A lembrança do 3 a 1 sobre o Chelsea virou referência. Não só pelo placar, mas pela forma: pressão coordenada, posse com propósito e agressividade na área. A comissão técnica sabe que contra europeu o detalhe pesa ainda mais. Por isso, cada minuto com a base titular em campo vale como ensaio geral.
O ponto mais sensível é a zaga. Com Pablo Marí em boa rotação e Léo Pereira firme, a ausência de Rodrigo Caio não virou drama. Mas ter o veterano de volta amplia o leque: jogo que pede saída limpa sob pressão, ele ajuda; partida que pede duelo físico, a comissão escolhe a melhor combinação. É a diferença entre ter uma solução e ter três.
O meio-campo é quem conecta tudo. Quando a equipe consegue girar de um lado ao outro sem perder o timing, o adversário cansa de correr atrás. Aí aparecem as chances de Pedro, os passes verticais de Arrascaeta e as infiltrações que quebram a linha. Se a bola parada continuar sendo arma — com bons bloqueios e ataques ao primeiro e ao segundo poste —, meia chance vira gol.
Fora de campo, pesa a trajetória do técnico. Filipe pendurou as chuteiras em dezembro de 2023, começou nos juniores em janeiro de 2024 e, em menos de dois anos, fechou um trio de títulos: Campeonato Carioca, Supercopa do Brasil e Libertadores. O que chama atenção não é só o currículo, é a coerência. Ele escolheu um caminho e o elenco comprou a ideia.
Para a próxima rodada do Brasileirão, a tendência é simples: manter a espinha que sustenta a liderança e trocar o mínimo possível. Sem Rodrigo Caio, Pablo Marí segue. O restante repete. No banco, peças prontas para mudar o ritmo no segundo tempo, caso o jogo trave. Se o roteiro fluir como nos últimos meses, a equipe deve controlar posse, circular com paciência e acelerar quando o rival afrouxar.
Em resumo, a possibilidade de repetir a escalação depois de cinco meses não é só curiosidade de pré-jogo. É sinal de um trabalho que juntou saúde física, clareza tática e vestiário alinhado. A conta está na mesa: mais um passo no Brasileirão, entrosamento afiado e confiança alta para o mata-mata internacional que vem aí.
- O que se mantém: base ofensiva com trocas constantes entre Pedro, Arrascaeta e Vitinho; saída de bola organizada; pressão coordenada após perda.
- O que muda: Rodrigo Caio ainda fora; Pablo Marí segue com Léo Pereira no centro da defesa.
- O que vem: sequência no Brasileirão e quartas do Mundial de Clubes contra o Real Madrid.
Se Rodrigo Caio voltar na próxima semana, Filipe recupera a formação que virou marca do time nesta temporada. Até lá, a palavra é continuidade. Sem invenção, sem pressa, com a mesma lógica que trouxe o Flamengo até aqui.