Famílias protestam após relatório inicial sobre tragédia aérea na Coreia do Sul apontar erro do piloto

Relatório inicial revolta famílias e expõe falhas na investigação
Imagine perder alguém em um desastre aéreo e, meses depois, ouvir dos investigadores que tudo se resume a um erro humano – como se nada mais precisasse ser explicado. As famílias das vítimas do acidente aéreo Coreia do Sul, envolvendo o voo Jeju Air 2216, não aceitaram esse desfecho fácil. Elas se revoltaram quando a Agência de Investigação de Acidentes de Aviação e Ferrovia (ARAIB) apresentou, em 19 de julho, a conclusão preliminar de que a tragédia aconteceu por causa de um erro do piloto, que desligou o motor errado após uma colisão com pássaros.
O acidente, ocorrido em 29 de dezembro de 2024, foi o mais fatal já registrado na Coreia do Sul, com 179 mortos. O voo, que vinha de Bangcoc para o aeroporto de Muan, encontrou uma revoada de patos-do-baikal pouco antes do pouso, o que danificou gravemente o motor direito. Segundo os investigadores, o piloto se confundiu e desligou o motor esquerdo – o que ainda estava funcionando – em vez do motor danificado, causando perda total de energia e falha no trem de pouso. As caixas-pretas mostraram que o piloto avisou que desligaria o “motor número dois” (direito), mas os dados de voo confirmaram que foi o motor esquerdo que acabou desligado.
Até aí, parece que tudo se resume a uma mistura de pressão e confusão no cockpit. Só que as famílias não aceitaram essa explicação. Segundo elas, o relatório ignorou outros aspectos que podem ter sido decisivos: a estrutura de concreto que separava a pista de aterrissagem e possíveis falhas mecânicas no avião. Alguns questionam até mesmo se a comunicação entre a torre de controle e a cabine foi adequada naquele momento crítico. Após protestos das famílias, uma coletiva de imprensa prevista para apresentar conclusões à mídia foi cancelada em cima da hora.

Pressão por respostas abrangentes e segurança nos voos
A repercussão do desastre não para nas críticas à investigação. A tragédia expôs feridas antigas sobre a segurança da aviação no país. Especialistas independentes e familiares querem explicações sobre por que o sistema de identificação de motores não era mais intuitivo, e se as rotinas de treinamento da tripulação estavam atualizadas para situações de pânico como essa.
Além disso, surgiram questionamentos importantes sobre a infraestrutura do aeroporto de Muan. A barreira de concreto na pista – um item de segurança que deveria evitar acidentes maiores – pode ter contribuído para o alto número de mortos. A análise detalhada do impacto dessa barreira ainda não foi divulgada. Organizações internacionais, como o National Transportation Safety Board (NTSB) dos Estados Unidos, participam ativamente na análise das caixas-pretas, o que mostra que a pressão para ir além do erro humano é real e pode trazer revelações inesperadas.
A Coreia do Sul vive um luto nacional, enquanto as famílias seguem cobrando justiça e mudanças que evitem que o horror se repita – seja com pilotos melhor treinados, pistas mais seguras ou aviões com sistemas menos sujeitos a erros em momentos críticos.